quinta-feira, 30 de setembro de 2010

pensamentos...

"Estou me acostumando comigo, revendo a casa, os vizinhos e os vazamentos
E isso já não me assusta mais. Estou me acostumando contigo
Revendo palavras sem modismo, olhares antigos nas frases que você agora traz

Se volto pra mim pouso na terra
E é macio saber que isso não me assusta
Que já não me assusta e me gusta voltar."


Esta letra da Zélia esta em minha cabeça hj...porém ela não diz a verdade sobre como estou...façanhas de nosso cérebro: estar cantando uma canção em pensamento, mas estar oposto ao q a mesma diz...
Mas... e o q sinto? Como estou afinal?? A resposta se encontra em vários textos de Augusto dos Anjos, Gregório de Matos nem tanto - revolta não faz parte de mim - hj, ah, Álvaro de Azevedo sim, sim...

Música e/ou letra feliz não me encanta no momento, o Renato Russo me descreveria perfeitamente ("eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperem q eu cante como antes...eu sou um pássaro, me trancam na gaiola, mas um dia eu consigo resistir e vou voar pelo caminho mais bonito") , tbm o Cazuza em sua cantoria depressiva qdo estava prestes a falecer (vc sofre, se lamenta, depois vai dormir)...
Definitivamente o otimismo não fez parte do meu vocabulário nessa última semana, entretanto não sou assim...sou feliz, esperançosa, confiante, tenho fé...mas...se não sou assim, quem está nesse corpo durante essa semana em q estes sentimentos foram p'ra longe? bom, resta-me então retificar e colocar no lugar de "não sou assim" a frase "tbm sou assim"...é...combina com o contexto e fui verdadeira...
Meu peito dói de tristeza e td está por fazer...contudo, como nós, humanos temos inúmeras fases, aceito estar no momento assim, mas gostaria q esta passasse mui rápido e, talvez por esse meu desejo, o q acontece é o contrário...pois q seja...não me importo...


Ah, encontrei nos arquivos desta minha cabeça um texto q me completa nesse dia...A excelentíssima Maíra Viana o publicou em seu livro "O Teatro Mágico em Palavras". Chama-se "O Varal" (a mesma criou este texto tendo como fonte de inspiração a música "Sobrenome" da trupe).  


"Esperança é algo que já não tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé. Voou também. Nem vi. Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde. Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito. Fico em casa com satisfação. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só para tirar o mofo, tomar um ar... Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história. Uma por uma. Tudo que eu amo desaparece. Do quintal da minha casa nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O seu varal. Onde não venta. E devem estar pendurados: meu sorriso, minhas certezas, minha fé. Quem sabe um dia bate um vento e, de tão forte, te faça trazer de volta o que sempre foi meu. E falta. No meu quintal. O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. E venta muito por aqui."


Amo essas palavras...mas hj não estou 100% em concordância, pois não tenho esperado nada...
Estou no momento de apenas sentir...solidão, tristeza, desesperança, vontade de não estar mais aqui (no mundo), inerte de tudo e todos, presa dentro de mim...


Socorro alguém me dê um coração, que este já não bate, 'só apanha'.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sobra tanta falta...

Falta tanta coisa na minha janela como uma praia
Falta tanta coisa na memória como o rosto dela
Falta tanto tempo no relógio quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência que me desespero
Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo

Sei lá, se o que me deu foi dado
Sei lá, se o que me deu já é meu
Sei lá, se o que me deu foi dado ou se é seu

Sei lá... sei lá... sei lá....
Se o que deu é meu...

Vai saber, se o que me deu , quem sabe?
Vai saber, quem souber me salve
Vai saber, o que me deu, quem sabe?

Vai saber, quem souber me salve...

(O Teatro Mágico)

desabafos

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa, eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar, eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava



(Oswaldo Montenegro - Se puder sem medo)

psicodelia...

Psicodelia é ouvir o barulho das máquinas e escutar música
Psicodelia é ouvir palavras sem se apegar à forma delas e sim ao seu real significado
Psicodelia é entender oque uma pessoa vai dizer antes dela o dizer
Psicodelia é olhar para dentro de si mesmo
Psicodelia é acordar e lembrar de um sonho
Psicodelia é entender o significado de um sonho
Psicodelia é olhar para o sorvete derretido e enxergar o que vc quiser enxergar
Psicodelia é nenhuma verdade a não ser os fatos
Psicodelia é ouvir o silencio e descobrir se ele tem voz
Psicodelia é saber se uma pessoa é boa ou não pela vibração dela
Psicodelia é sentir sem poder descrever
Psicodelia é ouvir o que não tem som
Psicodelia é enxergar o oculto do aparente
Psicodelia é enxergar o aparente do oculto
Psicodelia é mergulhar no significado das coisas
Psicodelia é sentir um cheiro que não existe
Psicodelia é ver uma cor que não existe
Psicodelia é estar vazio para poder estar repleto
Psicodelia é fazer sem agir
Psicodelia é sorrir ao ver uma criança sorrir
Psicodelia é olhar as rachaduras no cimento da calçada
Psicodelia é ser um mosaico dentro de si
Psicodelia é ser uno em contato com o todo
Psicodelia é ser um fragmento e conheçer o todo
Psicodelia é ser uma prolongação genética
Psicodelia é entrar dentro de si mesmo e fechar a porta
Psicodelia é sentir o sabor de um dia ou uma noite
Psicodelia é fechar os olhos e sentir seu corpo
Psicodelia é não ouvir com seus ouvidos e sim com os ouvidos de todos
Psicodelia é não ver com seus olhos e sim com os olhos de todos
Psicodelia é não usar sua mente e sim uma mente coletiva
Psicodelia é uma viagem para algum lugar do qual não se traz recordações
Psicodelia é uma viagem para o ponto de partida
Psicodelia é o dia a dia, a rotina
Psicodelia é o que eu sou e só eu sei
Psicodelia é a valvula de escape para não enlouqueçer
Psicodelia é escutar o barulho do leite caindo no copo
Psicodelia é sentir o branco do leite
Psicodelia é se abster do superficial
Psicodelia é buscar o profundo das coisas
Psicodelia é afastar o ali
Psicodelia é agarrar o aqui
Psicodelia é sentir o peso de uma molécula
Psicodelia é sentir a densidade das vibrações
Psicodelia é dizer sem falar
Psicodelia é ver antes de aconteçer
Psicodelia é ver uma folha caindo
Psicodelia é ouvir o barulho do vento
Psicodelia é ver o vento carregando folhas
Psicodelia é sentir o sol na pele
Psicodelia é sentir uma musica ao invés de escuta-la
Psicodelia é observar um inseto
Psicodelia é ver o caminho que a água percorre depois de ir ralo abaixo
Psicodelia é ver o caminho da água antes de ela cair como chuva
Psicodelia é ver fragmentos de muitas histórias juntas na poeira
Psicodelia é ver a sujeira se acumulando nas guias das calçadas
Psicodelia é ficar observando a água escorrer pelas guias das calçadas
Psicodelia é ver gotas de chuva na janela
Psicodelia é abraçar alguém e sentir uma troca de energias
Psicodelia é apertar a mão de alguém e sentir uma troca de energias
Psicodelia é estar são
Psicodelia é estar lúcido
Psicodelia é viver
Psicodelia é sentir a vibração de uma emoção
Psicodelia é conheçer a si mesmo
Psicodelia é saber que todo universo não passa de um grão de areia
Psicodelia é enxergar seu lugar e seu papel nesse universo
Psicodelia é conheçer a forma do vazio
Psicodelia é conheçer o vazio da forma
Psicodelia é o som de uma mão só batendo palmas
Psicodelia é o espaço entre duas dimensões
Psicodelia é o superficial do profundo
Psicodelia é o profundo do superficial
Psicodelia é a encruzilhada entre dois mundos
Psicodelia é uma palavra pra uns
Psicodelia é um significado para outros
Psicodelia não é um fim
em si
Psicodelia
é um caminho
Psicodelia é um jeito de ser
Psicodelia é o que todos tem mas nem todos conhecem
Psicodelia é uma iluminação
Psicodelia é massa
Psicodelia é matéria
Psicodelia é energia
Psicodelia é um Ser Humano
Psicodelia é nada
Psicodelia é tudo
Psicodelia é um momento
Psicodelia é uma eternidade
Psicodelia é um berço
Psicodelia é um caixão
Psicodelia é uma rua
Psicodelia é uma avenida
Psicodelia é um túnel
Psicodelia é uma rosa
Psicodelia é uma cruz
Psicodelia é um papel
em branco
Psicodelia
é o equilíbrio
Psicodelia é o curso das coisas
Psicodelia é o destino
Psicodelia é um desenho de criança
Psicodelia é entender algo
Psicodelia é não entender algo
Psicodelia é pensar sobre o que é psicodelia
Psicodelia é escrever sobre o que é psicodelia
Psicodelia é nossa insignificância perante a imensidão do universo
Psicodelia é o impulso que me faz escrever isso
Psicodelia é ter lido isso tudo
E ainda mais psicodélico seria achar que algo do que eu escrevi tem significado

... Ou Não ...

Psicodelia é um grito
Psicodelia é um sussurro
Psicodélica é nossa sociedade
Psicodélicos são nossos sonhos
Psicodélicas são nossas esperanças
Psicodélico é estar no trânsito na hora do rush
Psicodélico é morar
em São Paulo
Psicodélicos
são os paulistanos
Psicodélico é ter medo do telefone tocando
Psicodélico é o medo de se estar na rua
Psicodélico é o medo de se estar sozinho
em casa
Psicodélico
é o medo
Psicodélica é a coragem
Psicodélico é o que eu menos quero ser
Psicodelia é o que eu menos queria conhecer
Psicodelia é querer parar de ser psicodélico
Psicodelia é ter medo de se tornar psicótico
Mas no fundo no fundo ...

Não há nada mais psicodélico do que as migalhas de pão na mesa
Não há nada mais psicodélico do que comer pão com manteiga de manhã
Ver o vapor do leite se elevando por cima do copo
Ouvir o barulho da torrada sendo mordida
Sentir a manteiga derretendo quando é passada no pãozinho quente
Sentir as migalhas caindo do pão quando você o morde
...como isso é psicodélico

Ainda mais quando nesse meio tempo você fica se lembrando de fragmentos do sonho que teve...