terça-feira, 2 de agosto de 2011

Trechos do texto Pertencer de Clarice Lispector

"Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil.
E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho."

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Que angústia desesperada
Minha fé parece cansada
E nada, nada mais me acalma
Você pisou na flor
E esqueceu do espinho
Virou do avesso sem saber
Os nossos sentidos
Até aonde existe o amor
E suportar suas feridas
Até aonde existe a dor
De quem assume esta sina
Viver é um vôo pra felicidade
E a voz da verdade
Nunca fez caridade
E todo dia ao acordar
Eu vou querer saber
Que pedaço é esse que me falta
Que não me deixa esquecer
A dor, o pranto nos olhos
A fúria do seu olhar
Apesar de todo desencanto
Eu não desisto de amar
Não vai haver mais dor pra mim
Daqui por diante vai ter que ser assim
Não vai haver mais dor pra mim
Daqui por diante vai ter que ser assim
Vai ter que ser assim...
Vai ter de ser...
Que angústia desesperada
Minha fé parece cansada
E nada, nada mais me acalma
Viver é um vôo pra felicidade
E a voz da verdade
Nunca fez caridade
E todo dia ao acordar
Eu vou querer saber
Que pedaço é esse que me falta
Que não me deixa esquecer
A dor, o pranto nos olhos
A fúria do seu olhar
Apesar de todo desencanto
Eu não desisto de amar
Não vai haver mais dor pra mim
Daqui por diante vai ter que ser assim
Não vai haver mais dor pra mim
Daqui por diante vai ter que ser assim
Vai ter que ser assim...
(Daqui por diante - barão Vermelho)

Ps.: como te quero...se soubesses...mas é melhor q não... eu acho... uma hora vai passar o q sinto aq dentro... q me faz sofrer... e te querer cada vez mais...tomara q eu esqueça... para meu próprio bem não posso te querer... q triste...e como te quero...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Felicidade

'...e cada vez é mais difícil de vencer, pra quem nasceu pra perder.
Pra quem não é importante é bem melhor sonhar do que conseguir, ficar em vez de partir...' (Raul Seixas)


Essas palavras iniciais são para dizer q - ao menos por hj - não me importo se sou importante ou não, se a vida é de um engenho muito dificultoso pra mim, se tenhos sonhos e desejos na UTI...
Hj falo de alegria, de felicidade.
Dizem que o q existe são só momentos felizes, mas o que vem ser a felicidade?
Meu dia está normal aparentemente e não passei por algum fato para dizer q baseada no mesmo é q me sinto assim...porém dentro de mim algo acontece, sinto-me em êxtase somente pelo fato de sentir-me feliz...e muito...Pq? somente pelo fato de existir, de acordar em paz, de ter um ótimo café da manhã - em nossa correria diária murmuramos a cerca de tantas coisas q queremos, que temos q conquistar e esquecemos de agradecer pelo q temos - ter o prazer de ver esse sol magnífico, de sentir o ar nos pulmões, de ouvir uma linda música...
Claro q esse meu pensamento pode se dissipar, não estou imune de me extressar...mas por hora saboreio essas sensações e sorrio...sorrio para meus animais de estimação e sei q os mesmos me sorriem de volta por me sentir feliz...sorrio novamente...
A felicidade faz c q fiquemos mto mais sensíveis a td e a todos e é assim q me sinto: à flor da pele...
sinto q, mesmo c tantas adversidades, o simples e importante fato de estarmos vivos a mais um dia, de estarmos sobrevivendo nesse mundo tão cheio de coisas ruins já é motivo de alegria...
Obrigada Deus pelo prazer de viver.


'Felicidade é uma cidade pequenina
É uma casinha, é uma colina, qualquer lugar que se ilumina...' (Moraes Moreira - Fausto Nilo)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

choro

'Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo, mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido, troque já este vestido, troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos, faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa, coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas. Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura, ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre'


(Zélia Duncan)





Dizem q é preciso chorar...para desabafar, q é nada mais q colocar pra fora o q estamos sentindo...
Sei não, há controvérsias e mtas...
Me é difícil chorar pra valer...
E, qdo acontece esse fato as coisas não melhoram pq estou em rios, c os olhos cheios d'água, o peito parecendo q foi perfurado...
Tem situações - acredito q a maioria delas - q não tem resolução pelo simples ato de chorar...


Mas td bem... Hoje choro mesmo assim e o choro qdo vem se transforma em mil, parece q não vai acabar mais...pois que seja, não me importo...apenas choro...e sinto dor...q não sai de dentro de mim e q me domina.
Só por hj...só por hj me desarmo e ponho a boca no mundo...só por hj paro para só chorar e me permito ficar na posição de flagelada, com até um certo prazer obscuro...
Não, nada vai acontecer por estar assim. Ok. Por hj não importa...



'Eu hoje acordei tão só, mais só do que eu merecia
Olhei pro meu espelho e ah....Gritei o que eu mais queria
Na fresta da minha janela raiou, vazou a luz do dia
Entrou sem me pedir licença querendo me servir de guia

Eu que já sabia tudo das rotas da astrologia
Dancei e a cabeça tonta, o meu reinado não previa
Olhei pro meu espelho e ah....Meu grito não me convencia
Princesa eu sei que sou pra sempre
Mas sempre não é todo dia

Olhei pro meu espelho e ah....Meu grito não me convencia
Princesa eu sei que sou pra sempre
Mas sempre não é todo dia

Botei o meu nariz a postos pro faro e pro que vicia
Senti teu cheiro na semente que a manhã me oferecia
Eu hoje acordei tão só, mais só do que eu merecia
Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia

Eu hoje acordei tão só, mais só do que eu merecia
Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia'


(Oswaldo montenegro)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

pensamentos...

"Estou me acostumando comigo, revendo a casa, os vizinhos e os vazamentos
E isso já não me assusta mais. Estou me acostumando contigo
Revendo palavras sem modismo, olhares antigos nas frases que você agora traz

Se volto pra mim pouso na terra
E é macio saber que isso não me assusta
Que já não me assusta e me gusta voltar."


Esta letra da Zélia esta em minha cabeça hj...porém ela não diz a verdade sobre como estou...façanhas de nosso cérebro: estar cantando uma canção em pensamento, mas estar oposto ao q a mesma diz...
Mas... e o q sinto? Como estou afinal?? A resposta se encontra em vários textos de Augusto dos Anjos, Gregório de Matos nem tanto - revolta não faz parte de mim - hj, ah, Álvaro de Azevedo sim, sim...

Música e/ou letra feliz não me encanta no momento, o Renato Russo me descreveria perfeitamente ("eu sou um pássaro, me trancam na gaiola e esperem q eu cante como antes...eu sou um pássaro, me trancam na gaiola, mas um dia eu consigo resistir e vou voar pelo caminho mais bonito") , tbm o Cazuza em sua cantoria depressiva qdo estava prestes a falecer (vc sofre, se lamenta, depois vai dormir)...
Definitivamente o otimismo não fez parte do meu vocabulário nessa última semana, entretanto não sou assim...sou feliz, esperançosa, confiante, tenho fé...mas...se não sou assim, quem está nesse corpo durante essa semana em q estes sentimentos foram p'ra longe? bom, resta-me então retificar e colocar no lugar de "não sou assim" a frase "tbm sou assim"...é...combina com o contexto e fui verdadeira...
Meu peito dói de tristeza e td está por fazer...contudo, como nós, humanos temos inúmeras fases, aceito estar no momento assim, mas gostaria q esta passasse mui rápido e, talvez por esse meu desejo, o q acontece é o contrário...pois q seja...não me importo...


Ah, encontrei nos arquivos desta minha cabeça um texto q me completa nesse dia...A excelentíssima Maíra Viana o publicou em seu livro "O Teatro Mágico em Palavras". Chama-se "O Varal" (a mesma criou este texto tendo como fonte de inspiração a música "Sobrenome" da trupe).  


"Esperança é algo que já não tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé. Voou também. Nem vi. Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde. Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito. Fico em casa com satisfação. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só para tirar o mofo, tomar um ar... Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história. Uma por uma. Tudo que eu amo desaparece. Do quintal da minha casa nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, num cantinho, também tenha um varal. O seu varal. Onde não venta. E devem estar pendurados: meu sorriso, minhas certezas, minha fé. Quem sabe um dia bate um vento e, de tão forte, te faça trazer de volta o que sempre foi meu. E falta. No meu quintal. O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. E venta muito por aqui."


Amo essas palavras...mas hj não estou 100% em concordância, pois não tenho esperado nada...
Estou no momento de apenas sentir...solidão, tristeza, desesperança, vontade de não estar mais aqui (no mundo), inerte de tudo e todos, presa dentro de mim...


Socorro alguém me dê um coração, que este já não bate, 'só apanha'.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sobra tanta falta...

Falta tanta coisa na minha janela como uma praia
Falta tanta coisa na memória como o rosto dela
Falta tanto tempo no relógio quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência que me desespero
Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo

Sei lá, se o que me deu foi dado
Sei lá, se o que me deu já é meu
Sei lá, se o que me deu foi dado ou se é seu

Sei lá... sei lá... sei lá....
Se o que deu é meu...

Vai saber, se o que me deu , quem sabe?
Vai saber, quem souber me salve
Vai saber, o que me deu, quem sabe?

Vai saber, quem souber me salve...

(O Teatro Mágico)